Anedonia
Quando
o cérebro utiliza o mecanismo perigoso,
de
não sentir para não sofrer
Quem nunca desejou um
remédio para anestesiar o sofrimento?
Cada ser humano lida com
a dor emocional de maneira diferente, uns buscam enfrentar e outros interiorizar,
mas dificilmente alguém não deseje nesses momentos sombrios uma anestesia da
dor, que faça com que paremos de sentir, interrompendo assim a dor interna,
aquela dor que não é palpável e que fica ainda mais difícil de lidar. Nesse
sentido alguns buscam por algo que pelo menos desvie o foco dessa dor, e muitos
buscam o auxílio ilusório nas drogas, com um custo catastrófico.
Mas o caminho do viver
passa por encarar as provocações da vida, buscar desejos, metas e sonhos,
galgando momentos de felicidades, mas essa trajetória passa sempre por momentos
de sofrimento que é sentido de maneira individual, com maior ou menor
intensidade.
Pois nenhuma tristeza é
vivenciada da mesma maneira, nenhuma dor, depressão, ansiedade, etc… é
sentida da mesma forma.
Anedonia é a perda da
capacidade de sentir prazer e saborear as coisas positivas, é quando nos
desconectamos, ficamos anestesiados, e deixamos de sentir para não sofrer.
Muitas pessoas passam por
isso em algum momento da vida, e pode durar alguns dias, quando somos
consumidos pela apatia e pelo desânimo, mas isso começa a se tornar um problema
quando isso se torna crônico, quando deixamos de “sentir a vida” por completo.
Infelizmente não existe
nenhuma anestesia adequada para a dor emocional, e quando a anedonia aparece em
nosso cérebro como um mecanismo de defesa, ela não está nos causando nenhum
bem, muito pelo contrário, mesmo que a sensação seja menos dolorosa naquele
momento, depois a médio e longo prazo é muito prejudicial.
É de suma importância
entendermos que a anedonia não é uma doença, nem um transtorno, ela é um
sintoma de algum processo emocional ou de algum tipo de doença. Ela pode estra
relacionada com a depressão, mas também pode se manifestar como resultado de
uma esquizofrenia ou de demências como o Alzheimer.
Muitos de nós
experimentamos anedonia em algum momento da vida, uma falta de interesse pelas
relações sociais, pela comida, pela comunicação com os outros, etc…
Porém, o problema chega
quando a anedonia levanta um muro a nossa volta e nos tira todas as nossas
características de humanidade, passamos a não sentir nada diante das expressões
de carinho, não precisamos de ninguém do nosso lado e nenhum estímulo nos
produz prazer, nem a comida, nem a música e nada, é como se estivéssemos apenas
existindo.
Quando escolhemos deixar
de sentir para não sofrer, não estamos nos protegendo de nada, pois acabamos
fechando as portas à vida, seremos almas que vão definhando aos poucos e apenas
existindo automaticamente.
E esta baixa receptividade
frente aos estímulos exteriores tem seu claro reflexo em um cérebro deprimido,
e se isso se prolongar com o tempo e se tornar crônico, nossas estruturas
cerebrais sofrem mudanças, e isso afeta nossos julgamentos, pensamentos e
emoções. O nosso cérebro é afetado e o lóbulo frontal, relacionado com a tomada
de decisões, se reduz. Os gânglios basais, relacionados com o movimento, ficam
afetados até o ponto em que até nos levantarmos da cama exige um grande
esforço. O hipocampo, relacionado com as emoções e a memória, também perde
volume. É comum que tenhamos falhas de lembranças, que soframos sem defesa, que
fiquemos obcecados por pensamentos negativos.
Hoje precisamos entender
que a depressão não é apenas a doença da tristeza, ela é muito mais que isso, a
depressão é a prisão de um cérebro emocional que não encontra respostas para os
vazios da vida, a decepção, a frustração, e a perda da ilusão.
Devemos começar
compreendendo que a depressão não se “cura”, é preciso um processo de
enfrentamento a médio e longo prazo, desenvolvendo ferramentas de
enfrentamento, respeitando sempre a realidade de cada pessoa, e se utilizando
de todas as ferramentas possíveis, como medicamentos, terapias, apoio familiar
e, acima de tudo, os recursos próprios que cada um possa usar.
Mas precisamos ressaltar
que, não sentir para não sofrer não é um mecanismo adequado com o qual viver,
ele constrói um existir ilusório, te deixando “sobreviver”, mas estando vazio
por dentro. Você não pode se permitir ser um prisioneiro eterno do sofrimento.
Lembre-se, a anedonia, te
deixa “anestesiado/a” em relação à dor, mas não te permite viver, pois VIVER é
SENTIR em várias intensidades, seja no seu lado positivo ou no negativo.
Busque sempre ajuda
profissional!
Parabéns Rodrigo pelo artigo … ameiiiii…
É bom ter esse tipo de conhecimento para que possamos ter a consciência do momento que estamos passando e não deixar ele se tornar parte da nossa vida como se isso fosse normal , se possível procurar ajuda profissional e confiável logo que perceber esse sintoma seria o ideal , obrigada pela matéria Rodrigo!
Que artigo maravilhoso! As vezes passamos por isso, mas não sabemos identificar e lidar com a situação. Parabéns Dr